Se você acredita que a felicidade está naquela torta de morango suculenta, no cheirinho de carro novo, na chave do apartamento ou até em determinada pessoa e, principalmente, em fórmulas prontas de autoajuda, sentimos em decepcionar: não é nada disso. O “segredo” de felicidade está em meditar e aprender a controlar a própria mente. Quem afirma é o monge budista especialista em biologia molecular Matthieu Ricard, considerado o “homem mais feliz do mundo”.
Há 15 anos, ele estuda como a meditação é capaz de causar alterações na mente. Para ele, a felicidade deve ser entendida como um sentimento profundo de serenidade e realização que sustenta todos os outros estados emocionais. Ou, se você quiser simplificar, é aquela sensação plena de bem-estar, mesmo quando o mundo está caindo à sua volta (ele conta aqui como chegou até ela).
Em seu novo livro, intituladoA Revolução do Altruísmo (Palas Athena, R$ 82), Matthieu explica como uma sociedade mais feliz e altruísta pode ajudar até a frear o aquecimento global e gerar mais qualidade nas relações pessoais. Mas, como isso é possível em tempos de relações líquidas e consumo desenfreado? Em um bate-papo rápido com o Brasil Post, logo após uma palestra na Editora Abril, Matthieu contou que o primeiro passo para alcançar a felicidade é praticar meditação e cultivar a compaixão para, então, mudar sua perspectiva.
Brasil Post: Como o mundo seria se todas as pessoas alcançassem o mesmo nível de felicidade que você?
Matthieu Ricard: Isso não quer dizer nada. Eu não sei absolutamente nada sobre o meu nível de felicidade. Não dá para medir quem é a pessoa mais ‘feliz do mundo’. O que eu sei, o que eu desejo, é que as pessoas cultivem um nível elevado de amor, gentileza, altruísmo e compaixão umas com as outras. Se isso acontecesse, seria muito bom para o mundo. Egoísmo não deixa ninguém feliz; ser feliz e compartilhar este sentimento com os outros certamente faria um mundo melhor.
Como algo simples como a meditação pode ser tão transformadora?
Meditar é cultivar um estado mental. O segredo está em praticar. Nenhum atleta consegue vencer competições sem treino, não é? É preciso treinar para desenvolver o potencial. Então, se nesse “cultivo” você semear bons sentimentos como altruísmo e, principalmente, compaixão, o efeito é transformador. Hoje existem estudos científicos que comprovam isso. Quanto mais praticar, mais será significativa a mudança no seu pensamento. A ideia é conseguir que sentimentos como ódio, ganância, raiva, culpa desapareçam aos poucos da mente. E isso é transformador, mas leva tempo.
Mas como esta transformação é possível se as pessoas parecem estar obcecadas pelo sofrimento? É uma questão de escolha?
O sofrimento não é uma escolha. Mas a forma com que você experiencia ele, sim. Isso, sim, é uma escolha. Ao se transformar e buscar algo melhor para si, você automaticamente está buscando algo melhor para o mundo. Você pode estar no paraíso e se sentir infeliz. É disso que se trata: bem-estar pleno. A sua mente pode ser o seu melhor inimigo ou o seu melhor amigo.
BÔNUS: como meditar?
O ideal é praticar 20 minutos por dia, durante um mês. Segundo Matthieu, estudos demonstraram que este período de prática, mesmo curto, modifica a estrutura e o funcionamento do cérebro, ativando áreas ligadas a emoções positivas e o volume das áreas ligadas à aprendizagem e ao controle emocional (Matthieu Ricard explica detalhadamente neste vídeo). Atualmente, existem aplicativos e outras formas de meditar que qualquer um pode fazer (aqui estão 14 coisas que você precisa saber antes de começar a meditar).